quinta-feira, 18 de abril de 2024

BREVE REFLEXÃO SOBRE A PSICANÁLISE NOS TEMPOS DE HOJE

Das Mudanças Culturais e Tecnológicas


É função da psicanálise, independente da capacidade de cada psicanalista, a de transformação e adequação a novos modelos. Uma psicanálise enrijecida, ou cristalizada nos seus modelos é uma psicanálise morta e isso vale para cada sujeito que se propõe à sua prática. Com o fenômeno recente da pandemia do coronavírus, houve grande necessidade de adaptação tecnológica. O formato virtual, nos atendimentos online tornaram-se um importante recurso por conta da necessidade do afastamento físico, pelo risco de contágio. No entanto, no que se refere às questões culturais, não acredito que a psicanálise deva se ocupar de adaptação.  A atenção da psicanálise deve estar no âmbito do funcionamento emocional que, por sua vez, dá sustentação ao funcionamento afetivo e isso está compreendido numa dimensão independente das tendencias culturais ou ideológicas.

Não vejo diferença entre a psicanálise que possa ser aplicada num sujeito que viva na cultura brasileira, com a psicanálise que possa ser aplicada num outro sujeito de uma cultura diferente, ou ainda, na cultura do passado, ou mesmo, na contemporânea. A real psicanálise se presta a cuidar de elementos como amor, respeito, tristezas, ansiedades, angústias, e outros elementos do funcionamento emocional, desdobrando-se no âmbito afetivo. Estes elementos estão incluídos numa ordem que independem da tendencia cultural ou propostas ideológicas.

Da Ética Psicanalítica na Era Digital


A ética deve estar presente na prática da psicanálise, independente da modalidade de atendimento. A saber, a possibilidade de rebaixamento da influência moral para o enriquecimento ético é justamente, uma função da psicanálise. O respeito é elemento indispensável tanto no modelo presencial como no atendimento online. Da mesma maneira, dentro do âmbito das redes sociais, penso que um psicanalista real irá se manifestar dentro de uma atmosfera de respeito.


Da Patologização, do Diagnóstico Rotulador e o Medicamento que Alivia a Dor


Numa psicanálise real, que esteja cumprindo sua função, não se inclui os diagnósticos nas catalogações psiquiátricas. O respeito à forma de funcionar de cada um, em suas peculiaridades, assim como o respeito ao tempo que cada um leva nas transformações dentro do dos processos emocional e afetivos é indispensável numa prática bem-sucedida na clínica psicanalítica. A medicação psiquiátrica parece ser um fator obstrutor no fluxo bem-sucedido do processo psicanalítico, já que todo o trabalho da análise se inicia, se mantem, pela dor psíquica que é sua motriz. O que move o processo psicanalítico são as ansiedades e angústias, logo, quando esses sentimentos são suprimidos, o motivo da análise também se ausenta. A analisabilidade, ou seja, o nível de disposição ao processo psicoterapêutico, inclui a coragem de sofrer a dor para que se aprenda a tolerar desconfortos. Sem dor, sem psicanálise.

 

Da Formação dos Novos Psicanalistas


Vejo frequentemente nas redes sociais, divulgações de cursos de formação, cada vez mais breves. Na realidade, independente da época, a orientação de Freud, feita em 1919, em seu importante texto, SOBRE O ESTUDO DA PSICANÁLISE NAS UNIVERSIDADES, é elemento invariante na formação do psicanalista. O pai da psicanálise é categórico quando propõe o tripé contínuo e constante.

A análise pessoal, a supervisão feita por um colega mais experiente sobre os casos atendidos e o estudo teórico, de preferência em grupo. Isso qualifica o sujeito à prática da psicanálise, não um curso de formação. A dedicação à sua análise pessoal é mais importante do que os estudos teóricos, na formação do psicanalista. 




quinta-feira, 11 de abril de 2024

AMOR E FELICIDADE - Prof. Renato Dias Martino


Lá em 1914, no SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO, o Freud coloca a ideia lá, do amor feliz, para ele. Essa palavra feliz, para mim não faz muito sentido. Um amor feliz. Amor é dor. Amor não tem felicidade. Que felicidade tem no amor? Nenhuma! Amor é renúncia, amor é dor. Ama aquele que é capaz de tolerar a dor. Se você está buscando felicidade, não é amor que você vai buscar, você vai buscar paixão, você vai buscar qualquer outra coisa que é satisfação. A felicidade depende da ignorância. Quanto mais ignorante o sujeito for mais ele é feliz. O amor feliz para Freud que eu colocaria como amor saudável é aquele em que a libido objetal coincide com o a libido do ego. Este aí talvez, seria o amor saudável.

FELICIDADE E ALEGRIA

Um distanciamento enorme entre o conceito de felicidade principalmente este cultivado na contemporaneidade, com experiências como contentamento, alegria. Ninguém busca alegria, ninguém busca contentamento, elas são um estado de espírito que vem quando há uma configuração adequada para que elas possam vir. Agora, a felicidade é aquilo que o sujeito fica buscando o tempo todo, se ocupando em buscar, em detrimento de se preparar para tolerar dor. Se preparar para os dias difíceis. Felicidade se busca, alegria e contentamento vêm sem que eu precise buscar.

AMAR E SER AMADO

Enquanto o bebê, e isso se estende ao adolescente e ao adulto, enquanto o sujeito estiver se sentindo desamparado, inseguro de si mesmo, ele não é capaz de amar. Ele vai se ligar as pessoas para obter um benefício, ele vai se ligar as pessoas por conveniência. Ele precisa desenvolver isso. E como é que ele desenvolve isso? Sendo amado! Ele precisa ser amado e ser amado realmente, para que ele possa aprender a amar a si mesmo, aprender a reconhecer o limite de si próprio e estender isso ao outro. Reconhecer o limite do outro e aprender a amar o outro.



quinta-feira, 4 de abril de 2024

BENEFÍCIO NO SINTOMA - Prof. Renato Dias Martino


O sujeito que tem uma dificuldade no funcionamento emocional afetivo, o sujeito que muitas vezes busca psicoterapia, manifesta um problema, ele manifesta um sintoma neurótico, ou um sintoma muitas vezes até psicótico, que na verdade, é alimentado pelas pessoas que convivem com ele. As pessoas têm um interesse que ele continue funcionando daquela forma e a memória é um elemento presente nisso que eu estou dizendo. Muitas vezes, o sujeito não consegue permitir a transformação dele próprio, porque as pessoas esperam que ele continue sendo a mesma pessoa e não permitem que ele se transforme. Cada característica que ele apresenta de transformação de si mesmo é seguido por uma reprovação do outro. E aí, ele começa a ficar com medo dessa transformação e muitas vezes obstrui essa transformação de acontecer.

GANHO PRIMÁRIO E SECUNDÁRIO

Os benefícios de uma neurose, ou os benefícios de uma psicose não são só do sujeito que apresenta aquelas características, mas também são das pessoas que convivem com ele. Cada sintoma que o sujeito apresenta, não é só um malefício, mas tem por trás um benefício. E na verdade, não só um, mas vários. O próprio Freud falou do benefício primário que é a vazão da pulsão que estava ali reprimida e o benefício secundário que passar a ser visto pelo outro por conta daquele sintoma.

BENEFÍCIO DO OUTRO

Como o sujeito se sente saudável quando ele convive com alguém supostamente doente emocionalmente! Então, ele se sente o saudável e fala assim: “Esse daí tem problema.” “Esse aí precisa de terapia.” “Eu sou o saudável, eu não preciso.” Conviver com alguém, atribuindo a ele um problema psicológico é extremamente conveniente para aquele que não é capaz de se responsabilizar pelos seus problemas.

CORAGEM DO MAIS SAUDÁVEL 

A maioria das pessoas que procuram psicoterapia, são justamente as pessoas mais saudáveis da casa, da família. São justamente essas pessoas que tiveram a coragem de buscar ajuda, enquanto os outros estão extremamente implicados em seus sintomas e muito bem articulados com eles.

CHANTAGEM EMOCIONAL  

Uma pessoa fica o tempo todo condenando a outra por algo que aconteceu no ano passado, há cinco anos atrás, há dez anos atrás. Ela passa uma vida justificando a sua incapacidade de estabelecer um vínculo saudável com essa pessoa, por algo que aconteceu há muito tempo atrás e fica ali torturando, incitando remorso nessa pessoa, para conseguir um benefício com isso. Sendo que hoje aquilo já não existe mais. O sujeito que não está sendo capaz de amar pode encontrar na culpa um elemento que garanta que ele não vai ser abandonado. Ele não conseguia que o outro se dedicasse a ele pelo amor e agora, a partir de um evento que ele pode condenar o outro e incitar o remorso, ele começa a conseguir que o outro faça as coisas para ele.


quinta-feira, 28 de março de 2024

MATURIDADE E ESCOLHAS - Prof. Renato Dias Martino


E AS ESCOLHAS?

Acredita-se que para escolher, se tem liberdade.
Mas, a escolha não passa de um delírio de vaidade. 
Quando a escolha é bem-sucedida de verdade,
não foi uma escolha, mas o único caminho na realidade.
 Quando se está num acordo com o fato, 
não se tem escolha, mas é do 'Todo' a vontade.

DUAS PONTES

Quero propor uma alegoria, quero fazer uma pausa e retornar a essa alegoria no final da explanação. Vamos conjecturar aqui, que vocês vão ganhar, vão conseguir uma coisa que vocês desejam muito. Para conseguir essa coisa que vocês desejam muito, vocês têm que ir em certo lugar o mais rápido possível, o quanto antes, porque se você demorar muito para chegar nesse lugar, pode ser que você não consiga isso que você deseja muito. No caminho para esse lugar, para conseguir isso que você deseja muito, tem um rio muito perigoso. Um rio onde muitas pessoas morreram até, de tão perigoso que é este rio. Para cruzar esse rio você tem a “ponte A” e a “ponte B”. A “ponte A” vai te levar para este lugar, para esse teu objetivo, para você conseguir o que você tanto deseja, está condenada. A estrutura dela, muito provavelmente, não aguenta o peso de uma pessoa. Só que essa ponte te leva para este lugar, que você precisa chegar para conseguir o que você deseja, com muita rapidez. Um caminho curto. E tem uma outra ponte, a “ponte B”, que é uma ponte segura, que aguentaria dez pessoas, tranquilamente. Muito bem estruturada. Só que este caminho iria demorar mais. É um caminho mais longo para chegar até onde você precisa ir para conseguir aquilo que você tanto deseja e pode ser que você não consiga chegar se você pegar este caminho na “ponte B” e você tem que escolher. Qual ponte você pega? Eu vou dar uma pausa nessa história e nós vamos retomar essa história no final da nossa conversa aqui.

A VIDA É FEITA DE ESCOLHAS

Se a gente fizer uma breve pesquisa aí na internet, a gente vai encontrar inúmeras afirmações de que a vida é feita de escolhas. Dentre as pesquisas aqui, eu encontrei esta frase muito interessante de uma pessoa chamada Vitória Demante. A frase dela é assim: “A vida é feita de escolhas e uma hora você é obrigado a escolher o que quer, seja certo ou errado.” A gente idealiza o poder de escolha, a liberdade de escolha. Tem até a ideia de que o poder de escolha faz um sujeito bem-sucedido. Um sujeito bem-sucedido é aquele que tem o poder de escolha, que tem liberdade de escolha. E por outro lado, o sujeito fica muito desconfortável quando ele não pode escolher. Quando ele é obstruído de fazer as suas escolhas. 

IMPEDIDO DE ESCOLHER

A nossa vida cotidiana nos obriga a escolher, a decidir. A escolher, a decidir o que é certo, o que é errado. Esse critério é uma lei. Além disso, o sujeito que tem a liberdade de escolha se sente onipotente. Ele pode tudo! O sujeito que pode escolher pode tudo e quando ele não pode escolher ele se sente inseguro, se sente fracassado. Quando a gente é impedido de escolher, a gente acaba até se enfurecendo, sendo muitas vezes hostil, se revoltando.

ESCOLHA INCONSCIENTE 

Nós estamos falando de psicanálise aqui. Não estamos falando? Qual que foi a primeira e maior descoberta do Freud? O inconsciente. Não é isso? a ideia da instância inconsciente da mente a parte consciente da mente é ínfima é muito pequena como é que a gente pode ser psicanalista e acreditar na escolha lá em 1917, em UMA DIFICULDADE NO CAMINHO DA PSICANÁLISE, o Freud coloca assim o ego não é senhor da própria casa ou seja o “eu” não escolhe, ele simplesmente, sai correndo atrás de justificar aquilo que foi escolhido que não tem consciência e nunca terá.

VONTADE DE VIVER

Antes do Freud trazer a ideia do inconsciente, o Schopenhauer já falava disso. Schopenhauer falava da VONTADE DE VIVER. O que comanda o sujeito, o que rege o sujeito é a vontade de viver. Direciona o sujeito para onde ele for. É o que move o sujeito, é o que orienta o sujeito e a vontade de viver é inconsciente. Eu não sei o porquê, eu não sei o porquê eu estou caminhando para essa direção. Eu só estou caminhando para essa direção, depois a gente sai atrás tentando encontrar justificativas do porquê você está andando para aquele lado. O motivo real não está dentro da consciência do sujeito, não está dentro da possibilidade do sujeito saber.


DESEJO 

Quando o sujeito deseja alguma coisa... E aí, se a gente está falando de desejo a gente está falando daquilo que o sujeito vai escolher. Ele escolheu porque ele deseja aquilo. O sujeito deseja alguma coisa, não porque na realidade, ele quer aquilo, mas porque aquilo foi impedido para ele em certo tempo da vida dele. Ele foi impedido de fazer alguma coisa e agora isso se tornou um desejo para ele. Quando o sujeito deseja alguma coisa, aquilo ali está cheio de “eu não podia isso”, “eu fui impedido disso”. Muitas vezes, uma revolta, tentando conseguir isso daí, para provar para si mesmo que, agora ele pode, ou ainda, conseguir aquilo para ter aprovação do outro. Ele deseja algo, não para ele, mas ele deseja algo para que as pessoas o desejem o desejo. Não é genuinamente do sujeito. O primeiro desejo do da criança é que ela seja desejada pela mãe. Porque, se ela for desejada pela mãe ela está garantida. Ela passa a existir a partir do olhar da mãe. O primeiro e o maior desejo é o de ser desejado e não vai deixar de ser. Esse desejo vai se transformando, mas a essência continua sendo a mesma. Então, o desejo, ou é porque ele foi impedido, ou seja, elemento reprimido, ele foi impedido de alguma coisa e agora ele deseja isso a qualquer custo, se revolta contra essa proibição e agora ele quer ou ele deseja para ter a prova do outro aprovação do outro, ou ele deseja alguma coisa para se isentar de um sentimento de culpa, também. Mas, de qualquer forma não é dele. Não é genuinamente dele esse desejo.

DE GERAÇÃO PARA GERAÇÃO 

Então, o desejo do outro é genuíno? Porque, se o desejo do sujeito é o desejo do outro, então, o desejo do outro é genuíno? Não! Não é! Porque vai passando de geração em geração, uma certa incapacidade de tolerar e desconfortos, ao ponto de renunciar a esse desejo que não era dele e ele vai empurrando de geração para geração. O vô não conseguiu, empurrou para o pai, o pai não conseguiu, empurra para o filho, que empurrará para o neto, até que um, por assim dizer, “mate no peito” e diga: “daqui não vai passar, eu vou renunciar a esse desejo”.

DOIS MOTIVOS PARA ESCOLHER

Então, a gente chega num ponto onde dois motivos, ou a vontade que é a necessidade do id, inconsciente, que impulsiona o sujeito para um caminho sem que ele tenha consciência de porque ele está seguindo aquele caminho. Assim como Freud colocou, assim como Schopenhauer falava da VONTADE DE VIVER, que impulsiona o sujeito, ou o desejo que é do outro. É isso que faz o sujeito escolher. Um é da pulão de vida, da VONTADE DE VIVER e a outra é de um desejo reprimido, que foi empurrado para ele, projetado nele e agora ele tem que sair correndo atrás para resolver.

LIVRE ARBÍTRIO

A gente tem o conceito do livre arbítrio. Não é a gente? Tem na filosofia. O próprio Schopenhauer fala do livre arbítrio, Espinoza fala do livre arbítrio. Dentro do vértice místico-religioso, nas formulações religiosas, a gente tem também. Deus dá o livre arbítrio. Não é isso? No entanto, o que é o livre arbítrio? O que é o poder de escolha? É aquilo que vai fazer com que você viva uma experiência para que você possa ter consciência de que você, enquanto escolhendo, estava iludido. O livre arbítrio é uma chance de você viver a experiência de escolher e perceber que, na verdade, ao escolher, você estava iludido. Porque, a escolha não é tua. Se eu não posso escolher, eu também não tenho responsabilidade quanto a isso. É aí que entra o problema. Apesar de você não poder escolher, a responsabilidade é sua. Você precisa responder por aquilo.

AMOR FATI

Aí, entra uma formulação filosófica importante do Nietzsche. Lá no HUMANO DEMASIADO HUMANO, 1878, ele propõe a ideia do AMOR FATI. O que o Nietzsche quer dizer com AMOR FATI? Amar o fato, amar a realidade, independente do desconforto que essa realidade possa trazer. “Minha fórmula para a grandeza no homem é amor fati: nada querer diferente, seja para trás, seja para a frente, seja em toda a eternidade. Não apenas suportar o necessário, menos ainda ocultá-lo – (...) – mas amá-lo...”

AMOR

O que eu estou chamando de amor e o que que o Nietzsche estava querendo propor como amar. Amar não é gostar. Gostar é uma coisa, amar é outra. Amar é doar-se, dedicar-se, mesmo que não goste. Se você perguntar para uma mulher o que que ela espera de um homem, ela vai dizer assim: “que ele goste de mim”, não que ele tenha a capacidade de me amar. Você percebe como que o desejo é de ser desejada e não que alguém se dedique a mim? Porque, uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu gosto de alguma coisa porque aquela coisa me traz um benefício e eu amo alguma coisa porque eu beneficio essa coisa. Então, amar a realidade é dedicar-se à realidade não é gostar da realidade. Não adianta, porque você não vai gostar da realidade. Quanto mais você tiver clareza da realidade, quanto mais você estiver num acordo com a realidade, menos você vai gostar da realidade e mais você precisa se capacitar para amar esta realidade. E enquanto de acordo com a realidade, não existe escolha, porque a realidade é uma só, porque o caminho é um só, não tem dois. O amor verdadeiro é aquele que diz respeito a doar-se ao outro, a renunciar de desejos, a adiar vontades, a sacrificar-se pelo outro. Não quer dizer desejar o outro, não quer dizer estar fascinado com o outro, não quer dizer se sentir atraído pelo outro. Isso não é amor. Isso é paixão. 

AMAR É UMA ESCOLHA

E aí você vê ali assim na rede social: “amar é uma escolha”. Não, amar não é uma escolha. “Amar é uma decisão” Não, amar não é uma decisão. Amar é uma capacidade e uma capacidade que precisa ser desenvolvida. Se o sujeito não estiver sendo capaz de amar ele não pode amar, mesmo que ele escolha amar. Ninguém escolhe se dedicar a alguém ou não. Ou ele é capaz daquilo ou ele não é.

FORMULAÇÕES RELIGIOSAS

Aí mais uma vez a as formulações religiosas a gente vai encontrar lá: “amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento. Este é o primeiro e grande mandamento. E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Aí você vai encontrar em Mateus, 22:37,38,39, vai encontrar em Marcos, 12:30 e Lucas, 10:27. Não sou pastor, não estou aqui pregando. Não é nada disso! É simplesmente, mais uma possibilidade de ilustração, dentro de uma literatura riquíssima que são as escrituras bíblicas. Um modelo. O que que é amar a Deus sobre todas as coisas? É amar a realidade. Então, amar a Deus sobre todas as coisas e o AMOR FATI de Nietzsche, estão ali coincidindo. E o sujeito não precisa acreditar em Deus, ele pode ser ateu. Então, ele pode seguir o AMOR FATI e não o mandamento de Jesus Cristo. Amar aquilo que está fora das suas expectativas, que não depende do seu desejo. Por mais que a gente fale que este é um mandamento de Jesus Cristo, ninguém ama porque mandaram ele amar. Isso é absurdo! Ninguém ama porque escolheu amar, ninguém ama porque decidiu amar, ninguém ama por ser obrigado a. Você pode até fingir que você está amando, mas não é verdadeiro. A capacidade de amar só vai começar a acontecer a partir do momento que você for qualificado para isso. Como é que se qualifica para amar? Como é que o sujeito pode se qualificar para amar? Sendo amado! Não tem como aprender a amar sem ter sido amado. Eu aprendo a amar a partir do amor do outro e o outro faz parte da realidade. O outro faz parte dessa realidade que eu não controlo. Então, quando eu sou amado por esta realidade, que está independente da minha expectativa, eu passo a ter um relacionamento com essa realidade. Eu passo a ser capaz de amar esta realidade. Mas primeiro eu precisei ser amado, para criar um vínculo com essa realidade. Eu sou amado por essa realidade, aprendo a amar a mim mesmo, a partir desse amor que eu tive da realidade e agora eu devolvo esse amor. Eu retribuo esse amor para a realidade. Não é uma moeda de troca, é um processo.

AMAR O OUTRO

Lá em 1914, SOBRE O NARCISISMO UMA INTRODUÇÃO, Freud vai dizer assim: “um verdadeiro amor feliz”... ele vai chamar de amor feliz, talvez ali num erro de tradução, ou ainda numa colocação não muito adequada, porque amor e felicidade são dois conceitos que não estão juntos. Porque, se amor é renúncia ninguém é feliz renunciando, se amor é abrir mão da satisfação, ninguém é feliz insatisfeito. Mas, de qualquer forma, ele coloca lá que o amor feliz é quando a libido do ego corresponde a libido objetal. Ou seja, quando, o quanto eu amo a mim mesmo coincide com quanto eu amo o outro. E Olha que bacana! Se, no primeiro mandamento de Jesus Cristo, “amar a Deus sobre todas as coisas”, coincide com a colocação ali do Nietzsche, do AMOR FATI, amar o outro como a si mesmo, coincide com a colocação do Freud, que um amor feliz seria amar a si mesmo, assim como ama o outro.

MOEDA DE TROCA

Se você for grato você vai ter uma vida próspera. Então, eu vou ser grato para ter uma vida próspera. Não é assim! Não é uma moeda de troca. Ser grato é uma capacidade. Quando eu for capaz de ser grato, a minha vida vai começar a prosperar. Uma vida de fartura se inicia com um ato de generosidade, mas eu não posso ser generoso para ter uma vida de fartura. Ser generoso não pode ser uma atitude esperando uma recompensa. Por que, senão, não é nobre, senão, não é real. Eu preciso ser capaz de desenvolver a generosidade e a partir dessa generosidade, da minha atitude generosa, a minha vida começa a ser farta. Mas, por outro lado, eu só vou conseguir ser generoso, se um dia foram generosas comigo. Se não foram generosos comigo, eu não consigo desenvolver a generosidade com o outro. Então, tudo se inicia no colo da mãe. “Ah! ó o clichê da psicanálise”. Pois é! Por isso que a psicanálise faz tanto sentido. A mão que balança o berço move a nação. Uma mãe generosa, configura uma personalidade generosa, que sendo generosa irá configurar, por sua vez, uma vida de fartura. “Ah! Mas é só com a mãe?” Não! Nós somos psicanalistas. Então, a gente tem ali, a possibilidade de configurar um ambiente emocional-afetivo saudável para que possa haver experiências reparadoras nesse nível. Há uma esperança, por mais que eu possa não ter tido isso no seio do lar. Esse é o papel da psicanálise, propor um ambiente reparador dentro do nível emocional e afetivo.

DESINTEGRAÇÃO

A escolha está subordinada à ilusão. Enquanto escolhendo estou iludido. E a ilusão tem a suas consequências e eu preciso arcar com essas consequências, ou então empurrar para próxima geração. Escolher diz respeito a desintegração. DECISÃO! “D” quer dizer cortar e cisão reafirma este corte. Então, cada vez que eu decido, eu estou cindindo, desintegrando. E cada vez que eu renuncio de decidir eu estou integrando, estou integrado e estou me integrando com o todo. Porque é do todo a vontade e não minha. Porque é do todo a escolha e não minha. E como é que eu me conecto com o todo? A partir do meu inconsciente. A partir daquilo que é mais primitivo em mim. A partir da minha vontade de viver. Dentro da formulação religiosa, “seja feita a vossa vontade”. E mais uma vez, não sou o pastor, não estou aqui tentando pregar religião alguma, mas estamos trazendo mais uma ilustração, que é dentro das escrituras bíblicas do cristianismo. Que é extremamente rica.

MATURIDADE E ESCOLHA

Então, a maturidade traz a liberdade de escolha? Não! É o contrário. Quanto mais amadurecido emocionalmente você vai ficando, mais você vai tendo clareza da realidade, que o caminho é um só e não tem escolha. Quanto mais você amadurece emocionalmente, mais integrado você fica com seu instinto de autopreservação, que é a coisa mais primitiva que uma criatura pode ter e este instinto de autopreservação vai te mostrar o caminho que é um só.

PARA O INTOLERANTE

Para o sujeito que não tolera desconfortos, para o sujeito que não aprendeu a tolerar frustrações, ou ainda, para o sujeito que não está sendo capaz de tolerar frustrações é melhor acreditar que ele é livre para escolher. E aí, a realidade é aquilo que eu quero que seja, independente do que ela é na realidade. Se eu decidir que eu sou um cachorro agora, eu vou começar a latir e todo mundo precisa começar a me chamar de cachorro, porque se não me chamar de cachorro, eu vou protestar, vou mandar aprender. Independente da natureza da biologia estar escancarando na minha própria cara que eu sou um ser humano. Eu vou começar a latir e todo mundo vai ter que engolir.

AINDA SOBRE AS DUAS PONTES

Voltando na proposta da alegoria. Então, qual o caminho que eu devo escolher? O da “ponte A”, ou o da “ponte B”. A “ponte A” é uma ponte que está danificada. Muito provavelmente não aguentará o peso de uma pessoa, mas ela é um atalho e te leva mais rápido para o ponto, para você conseguir aquilo que você tanto deseja. A “ponte B” é uma ponte bem estruturado e aguentaria aí umas dez, vinte pessoas, numa boa. Mas você demoraria mais para chegar ao ponto para conseguir aquilo que você deseja e poderia correr o risco de não chegar a tempo. Embaixo da ponte, um rio extremamente perigoso, onde morreram várias pessoas. Qual ponte você escolhe? A “ponte A”? Você pode escolher. Não pode? É tua escolha! É o livre arbítrio! Para conseguir o seu desejo, muito provavelmente você vai escolher a “ponte A”, mas se você for capaz de renunciar o seu desejo. Não é de maneira alguma dizer não vou conseguir isso que eu desejo, mas é ser capaz de ser prudente o suficiente para não arriscar a sua vida, para obter aquilo que você deseja. E se você tiver de acordo com esta realidade que inclui, o instinto de autopreservação, não tem escolha o caminho é um só é a “ponte B”. Segura!

VERDADEIRO EU

Ninguém escolhe como quer ser e então,
passa a ser o que escolheu.
Na melhor das hipóteses,
pode vir a reconhecer
como esteja sendo e assim,
poderá aprender a respeitar
e se responsabilizar pelo verdadeiro eu.



quarta-feira, 20 de março de 2024

EVOLUÇÃO DA RAÇA HUMANA - Prof. Renato Dias Martino


Não acredito que a humanidade esteja evoluindo. A tendência de uma raça que prolifera descontroladamente como é o caso do ser humano, é o rebaixamento da qualidade do indivíduo. Os bebês teriam que ser mais bem cuidados pelos seus pais e não é isso que está acontecendo. Seres humanos sendo colocados no mundo sem o menor cuidado, sem a menor dedicação para evolução. Então, não é possível que uma raça possa evoluir sem que seja cuidada adequadamente. Pelo contrário, a gente vai despejando seres humanos sem o menor cuidado e esses seres humanos vão trazendo uma configuração nociva para própria sociedade e para própria espécie em si.

QUALIDADE DO SER HUMANO

Na forma que vai se desconstruindo o modelo da família, vão se introduzindo ideias nocivas de ideologias e coisas parecidas. Que vão trazendo a impossibilidade do sujeito se tornar um pouco mais contido um pouco mais pacífico, um pouco mais tolerante dos desconfortos. Parece que a gente vai assistindo uma formação de um sujeito, de um humano revoltado, de um humano violento, hostil, porque ele vai sendo abandonado em instituições, em creches muito cedo, ele vai sendo colocado aos cuidados de terceiros muito cedo. Então, ele vai se tornando um sujeito cada vez mais distante da realidade e vai ficando cada vez mais incapaz de criar uma relação afetiva com a realidade, porque ele é abandonado muito cedo distante da realidade e isso vai dificultando que ele possa se tornar um animal mais pacífico, mais calmo mais tolerante. Pelo contrário, ele vai se tornando um sujeito agressivo, reclamão, ativista. Ao avesso daquele que pôde contar, por exemplo, com uma estruturação de uma família tranquila, com uma mãe que pudesse cuidar dele dedicadamente, com um pai que pudesse resguardar esse lar de maneira pacífica, de maneira afetiva, carinhosa. Essa sociedade que vai sendo configurada dessa forma desestruturante. A desvalorização da figura paterna, da função paterna. A desvalorização até, dos cuidados maternos, como se não tivesse importância que qualquer outra pessoa pudesse estar com essa criança nos primeiros anos de vida.



terça-feira, 12 de março de 2024

LEMBRANÇAS, EXPECTATIVAS E RECONHECIMENTO - Prof. Renato Dias Martino




MEMÓRIA E IMAGINAÇÃO

Aquilo que a gente se lembra, aquilo que que a gente resgata enquanto dados armazenados na memória está muito próximo do daquilo que a gente cria. Muitas vezes, se confundem. A gente tem uma dificuldade muito grande de prestar atenção nas coisas. Quando a gente olha para alguma coisa, quando a gente vive alguma coisa, a maior parte da nossa percepção disso diz respeito a uma tentativa de aproximar isso de algo que a gente já viveu. Então, o que a gente lembra não é o que ocorreu, mas é aquilo que a gente imagina ter ocorrido.

EXPECTATIVAS 

A expectativa é a fonte das frustrações. O futuro nunca vai ser da forma como a gente deseja, como a gente espera que seja. O futuro é mistério, o futuro é incerto. E quanto mais a gente conseguir rebaixar as nossas expectativas... Não é, não criar expectativas, não dá para não criar expectativas. A gente vai criar expectativa naturalmente, mas o importante é ser capaz de rebaixar essas expectativas. Não cultivá-las, não incentivá-las. Quanto mais a gente conseguir rebaixar, mais de acordo com a realidade a gente vai estar.

PRESENTE

Aquele que consegue viver o presente é agraciado, porque nós temos uma dificuldade muito grande de viver o presente. Porque o presente não admite o conhecimento. Você não pode conhecer o presente. Você pode, no máximo, vivê-lo, se você tiver de bem consigo mesmo. E isso é desconfortável. Lidar com algo que não pode ser conhecido só pode ser vivido.




terça-feira, 5 de março de 2024

DO ÉDIPO AO SUPEREGO - Prof. Renato Dias Martino



Quando a gente fala de Édipo, normalmente a gente tem a ideia de que existe ali, uma triangulação onde duas figuras estão unidas e vem uma terceira para cortar esta relação. Esta colocação é extremamente inadequada. 

CORTE, TRANSFORMAÇÃO E ENRIQUECIMENTO 

A entrada do pai não promove corte algum, ele vai promover um enriquecimento, ele vai vir para trazer uma possibilidade de influência para que esta relação, entre o filho e a mãe possa se enriquecer, possa se transformar. É um ponto de transformação e não de corte. Os lacanianos se apossaram dessa palavra corte, castração e trazem uma um empobrecimento na possibilidade de associação do que se tem como teoria, na prática. A entrada do pai é um fator enriquecedor, que vai possibilitar a desobstrução da relação filho e mãe, para que esta relação possa se transformar em algo adequado. Então, quando a gente está falando de triângulo edípico, nós estamos falando de uma configuração que vem para trazer uma possibilidade de transformação e não de ruptura. O vínculo entre mãe e filho se enriquece com a entrada do pai.

NOVA DIMENSÃO E ADEQUAÇÃO

Todas as configurações triangulares que o sujeito virá experimentar no futuro, vão estar de alguma forma subordinadas à elaboração daquilo que o Freud chamou de complexo de Édipo. O Freud trouxe o mito de Édipo, mas você não precisa do mito de Édipo para que você possa entender a configuração triangular. O próprio triângulo, a própria geometria já é o suficiente para que você possa perceber aí, dois pontos e um terceiro ponto que promove, não um corte, mas uma nova dimensão para esta configuração. O ponto não corta, ele traz uma nova configuração. A entrada da função paterna precisa ser algo enriquecedor para relação. Ele traz a possibilidade de enriquecer o relacionamento que o filho tem com a mãe. Ele traz a possibilidade de se esclarecer as possibilidades vinculares entre filho e mãe. A função paterna real e saudável é aquela que traz a possibilidade de adequação da relação filho e mãe.


PARA KLEIN


Irá ganhar uma nova configuração por conta da função paterna que passa a integrar o mundo emocional-afetivo da criança. Para Melanie Klein, o complexo de Édipo já existia dentro daquilo que ela chamou de um Édipo arcaico, de um proto-superego, por assim dizer. Um período pré-edipico que na fase fálica vai tomar uma configuração exteriorizada, por assim dizer. Como é que se dá esta configuração pré-edipico, no que a gente vai chamar de superego arcaico, dentro da configuração kleiniana? Melanie Klein, dentro daquilo que ela chamou de posição esquizoparanóide, divide o bebê. Vai dividir a realidade em duas, cindindo essa realidade em dois. Uma parte é benevolente, uma parte vem para satisfazer e a outra parte está ligada à privação e é um seio persecutório. Então, seio bom e seio mau. O seio bom é aquele que vem e satisfaz e o seio mau é aquele seio que priva da satisfação. Por mais que o sujeito esteja desfrutando do seio bom, ele está o tempo todo com medo da perseguição do seio mau. Então, se a gente está falando de sei o bom e sei o mau e o sujeito, nós estamos falando então, de uma triangulação. O superego primitivo, ou arcaico é um superego persecutório, é aquele perseguidor, é aquele que que vem ameaçar a paz do bebê com o seio bom. Diferente do superego proposto por Freud na fase fálica que é o herdeiro do complexo de Édipo fálico, que é o superego legislador. É aquele que traz a lei, é aquele que vai trazer o que pode e o que não pode. A princípio, o bebê vai viver um superego persecutório e depois ele vai, através da entrada do pai, transformar esse superego num superego legislador. O sujeito que tem a preponderância, ou a predominância da parte psicótica, não conseguiu essa transformação de superego persecutório para um superego legislador. O superego legislador é aquele que vai ser o fiscalizador, ou o fiscal das neuroses, dos sintomas neuróticos e o superego persecutório é aquele que vai atormentar as alucinações psicóticas.

PARA FREUD

Para o Freud, o superego é um herdeiro do complexo de Édipo e para o Freud o complexo de Édipo acontece na fase fálica. Então, na elaboração do complexo de Édipo na fase fálica, para Freud, aparece o superego para ele. Antes não tinha superego e o que que é o superego para o Freud é a possibilidade de elaboração do complexo de Édipo. As questões edípicas. Ideal de eu. O que então, deveria ser. Então, este superego, ao mesmo tempo vai cobrar que o sujeito tem a mãe só para ele e também, ao mesmo tempo, vai negar e proibir que ele possa ter esta mãe para ele. E quando esse pai não exerce uma função suficientemente boa, isso passa a ser um elemento extremamente perturbador na configuração da estrutura mental do sujeito.

PERSEGUIÇÃO E LEGISLAÇÃO

Um sujeito que tem a predominância da parte psicótica da mente, ele não tem a ligação razoável com o mundo externo, logo, as leis para ele fazem muito pouco sentido. Toda figura de autoridade vai significar perseguição e não legislação. Todas as vezes que houver um contato, tanto com a figura externa de autoridade, quanto com a figura interna de autoridade. Este contato será um contato de perseguição de alguém que vem me sondar com um olhar que fica o tempo todo à espreita. A alucinação do psicótico, a miúde, tem esta figura de perseguidor independente de leis ou não. Não tem a ver com lei, tem a ver com perseguição. Estão me perseguindo! E o superego legislador é mais fácil ainda, porque todo o sintoma neurótico acontece por conta de uma proibição, de uma proibição da civilização. Como é que se desenvolve um sintoma neurótico? O sujeito reprime um desejo perverso, por ser proibido civilizatoriamente, dizendo, e a partir dali, ele elege um substituto, que é permitido pela sociedade e ali ele desenvolve o seu sintoma. Todo o sintoma neurótico perpassa por uma proibição civilizatória social.

PARA BION

O Bion observa um uma outra característica do Édipo. Não restrita a ideia do crime sexual e do parricídio, mas ele vai para além. Ele percebe ali, a forma arrogante que o Édipo lida com a verdade. Quando ele manda buscar o Tirésias e pergunta quem foi que matou Laio. Conforme o Tirésias vai revelando ali a verdade, o Édipo vai se enfurecendo, ficando hostil e lidando com arrogância frente essa verdade. Mesmo dentro do Édipo, fora dessa configuração, se estabelece mais um triângulo. Não mais em relação a Laio e Jocasta, mas agora em relação à verdade e o Tirésias. Então, mais um triângulo aí que não tem a ver com sexualidade. Mas o Édipo gostaria que a realidade fosse uma coisa e o Tirésias traz a verdade que não é aquilo que o Édipo gostaria que fosse. Então dentro da história do Édipo se instala um novo triângulo que é uma extensão do próprio triângulo edípico, onde o Édipo deseja que a realidade seja alguma coisa e o Tirésias diz que a realidade não é aquilo que ele deseja.

MODELO EDÍPICO

Quando a gente fala de triângulo edípico, triangulação do Édipo, do complexo de Édipo, nós não estamos falando somente da ideia sexualizada, mas nós estamos falando aqui, de uma experiência onde há um objeto de desejo e algo a ser respeitado na tentativa de conseguir este objeto de desejo. O sujeito, um objeto de desejo e algo que precisa ser respeitado na direção de conseguir este objeto de desejo. Não somente, sujeito, mãe e pai. Ou sujeito, pai e mãe, mas sujeito algo que ele deseja e algo que barra a realização desse desejo. Então, este é um modelo que vai para além da simples triangulação no desejo da criança obter a mãe exclusivamente para ele e excluir o pai desta relação.