segunda-feira, 28 de junho de 2010

Dor da Luz que Faz Viver













Dor da Luz que Faz Viver
Renato Dias Martino



A dor da luz que faz viver.
A dor conduz e faz saber.
Então seduz e faz crescer.



Quando adia a dor, paga dobrado.
Com a dor da inércia do inanimado.
Do ser dinâmico, e estar parado.



Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodmartino@ig.com.br
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A MELANCOLIA DE NORMAN BATES

Se partirmos de um pressuposto onde a cogitação criativa é de onde geram os pensamentos, talvez por seu inicial dês compromisso imediato para com a realização efetiva. O lúdico, tão valorizado nas teorias iniciadas por Melanie Klein (1882 – 1960). Não seria absurdo dizer que a saúde do aparelho mental então, é “poder avaliar a dimensão do que diz respeito ao objeto externo” e mais precisamente conhecer esse objeto enquanto representante do interno. Isso corresponde à proporção da falta interna relacionada a esse objeto. 

Falo aqui de um modelo semelhante ao usado por Sigmund Freud (1856 -1939) em 1917, quando relaciona a melancolia com a invasão do eu pelo objeto perdido. Então “a sombra do objeto recai sobre o ego”, diz o velho pai da psicanálise. Condição que rege o sujeito ameaçando a capacidade de viver o processo de luto. Freud descreve um modelo de luto que se dispõe como processo de tomada de consciência da perda real do objeto amado. Em 1917 o pai da psicanálise publica LUTO E MELANCOLIA que expõe justamente a disputa desses dois funcionamentos mentais pela regência do eu. Antes de tudo certo embate inexorável nos processos internos de cada um de nós.
Muito boa ilustração da manifestação melancólica está na obra do cineasta inglês Alfred Hitchcock (1899 – 1980), o clássico Psicose de 1960. No filme, o personagem Norman Bates, interpretado por Anthony Perkins (1932 – 1992) é um gentil cicerone em um motel a beira da estrada. Prestativo rapaz que reserva grande mistério por trás de sua simpática e bondosa figura externa. Travestido de sua velha mãe, já falecida, mata com facadas a personagem Marion Crane, que no filme original é interpretada por Janet Leigh (1927 – 2004). Uma bela moça que chega ao motel solicitando um quarto, depois de ter roubado uma boa quantia de dinheiro e decidido fugir. Sem saber do roubo praticado pela moça, Norman mata aquela da qual cortejava anteriormente. Muito provavelmente herdeiro da perversão da mãe, hoje ele disputa seu próprio corpo com a alma daquela que um dia o invadiu. Nesse caso, de cunho melancólico, o sujeito torna-se o objeto. Esse fenômeno acontece através do funcionamento do qual Freud denomina mecanismo de identificação. Essa talvez seja a única forma encontrada pelo melancólico, para suportar viver a perda daquele objeto do qual o sujeito dependia e que hoje sente a ausência. O caso toma proporções imensuráveis na medida em que essa dependência se da justamente na capacidade de desempenhar o próprio pensar.


O funcionamento mental do estado de melancolia, se da no ataque ao vínculo com a realidade externa. A projeção do ódio no mundo externo. A odiosidade investida a qualquer que seja o objeto externo que dispute lugar com o fantasma da mãe. A perseguição inunda qualquer que seja a figura do rival no que diz respeito à dedicação de interesse, ou como colocaríamos em psicanálise, qualquer que seja o investimento da libido.


Estamos aqui conjeturando sobre certa relação narcisista, que na situação de perda do objeto amado tem seu desfecho no estado de melancolia. Isso é na trama da película, o gerador do crime. A lembrança atormentadora da mãe, constantemente alimentada de culpas, obriga que Norman viva uma clausura em seu mundo interno. Assim, ele fica impedido de se dedicar a qualquer nova exploração no mundo emocional. A incapacidade de sonhar com a separação da mãe coage Norman a viver num pesadelo alucinado. A exclusividade afetiva que sempre inundara o vínculo narcisista (logo de cunho perverso), entre Norman e sua mãe, resultariam agora, num buraco negro na alma. Qualquer outra relação que se proponha e que não seja entre Norman e sua mãe traz também uma carga enorme de ideias persecutórias sobre o objeto. Ideias sempre geradas a partir de um ambiente repleto de culpa e incredulidade quanto ao mundo real, ou seja, aquele mundo externo ao vínculo fusionado. A experiência de dois corpos disputando uma alma tem como consequência agora num modelo onde duas almas disputam um só corpo. O estado de melancolia nos parece então, certa falha na difícil tarefa de continuar vivendo mesmo conscientes de tudo que perdemos e percebermos que perderemos tanto mais.


A incapacidade simbólica obriga o melancólico materializar o objeto que se foi no nível real sensório, mas isso ocorre em detrimento do próprio eu. Se for verdade que o símbolo é aquilo que fica no eu, enquanto não se pode confirmar no mundo real, com os órgãos dos sentidos, então assim como coloca Melanie Klein em 1930, o ego é estruturado através de símbolos, e cada falta da qual o ego toma consciência, expande-se e evolui a capacidade emocional. Esse processo de expansão poderia apresentar-se numa escala do pensamento que se dispõe como que em uma espiral progressiva. E assim como sugere Wilfred R. Bion (1897-1979) outro grande psicanalista contemporâneo e discípulo de Melanie Klein somos: “pensamento em busca de um pensador”. Cada pensador que encarna esse pensamento, também tem a chance de evoluí-lo por meio do seu próprio aprendizado adquirido em sua experiência.
A maior dor compreendida na psicose talvez esteja justamente no breve contato com a realidade. Curto mas doloroso momento em que se toma consciência de que não se suporta a ausência concreta do objeto. E isso coincide com a incapacidade de criação de símbolos, que é aquilo que sustenta a falta da realidade externa.

BION, W.R.(1992) CONVERSANDO COM BION. Quatro discussões com W. R. Bion (1978) Bion em Nova York e em São Paulo (1980)Rio de janeiro: Imago.
FREUD, Sigmund. EDIÇÃO BRASILEIRA DAS OBRAS PSICOLÓGICAS COMPLETAS – Edição Standard Brasileira, Imago (1969-80.
KLEIN, M, (1930) A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DE SÍMBOLOS NO DESENVOLVIMENTO DO EGO. In: ______ AMOR, CULPA E REPARAÇÃO. Rio de Janeiro: Imago, 1996.


terça-feira, 15 de junho de 2010

Pontapé inicial para o sucesso

Pontapé inicial para o sucesso


“Em geral, as coisas idealizadas são exigentes demais para ser realizáveis.” Neste cenário, ele sugere o filme “Antes de Partir”, estrelado por Morgan Freeman e Jack Nicholson. “É fantástico para questionar as nossas mais profundas crenças, para desapegar dos esquemas de identidade conservadores.”

Mais uma vez é possível enxergar a importância de um bom planejamento. Segundo o psicoterapeuta Prof. Renato Dias Martino, necessita-se perder o medo dos próprios sonhos e aproximá-los da realidade. “A tolerância é ingrediente fundamental, pois o sonho deverá sofrer mudanças até que se realize.”Segundo Prof. Renato Dias Martino, tolerar até que se chegue o momento certo da realização e ter a percepção de até que ponto a realização poderá reproduzir o sonho original é de suma importância. “Do sonhar até o realizar exige paciência e tolerância, do contrário, o que se quer é mágica.”

Matéria na integra:

domingo, 6 de junho de 2010

DEPRESSÃO PÓS-PARTO


(Na mãe e no pai)

O ser humano necessita criar nomes, conceitos, para descrever os processos internos que percebe. Manifestações interiores que trazem consigo sentimentos e emoções manifestados nas relações interpessoais e, é claro, do eu para o eu mesmo. 
 Immanuel Kant (1724-1804)
Isso está em concordância com as Críticas às Razões, Pura e Prática de Immanuel Kant (1724-1804), filósofo alemão, quando propõe que, para haver real experiência com a realidade das coisas, deve ter havido a possibilidade de nomear essa vivência, caso não, a experiência se coloca cega e inconsequente.
Quanto maior a capacidade de transformação dos processos internos em palavras comunicáveis ao outro, melhor a adaptação desse sujeito no mundo. É um sinal de bom funcionamento no que se refere ao convívio entre as pessoas.
No entanto, a nomeação indiscriminada de certos fenômenos da mente humana, pode confundir e limitar o desenvolvimento psíquico e emocional, assim como o resultado disso na capacidade de criação e manutenção dos vínculos. As dificuldades em se lidar com sentimentos que surgem do interior da mente e se pronunciam como comportamento, é o que nos impede de amar. O uso da expressão 'depressão pós-parto' ou  depressão puerperal (diagnóstico da psicopatologia psiquiátrica muito usado hoje), é algo que poderia ilustrar o que tento expor.
Quanto maior a capacidade de troca afetiva entre um casal, melhor é a possibilidade de ultrapassar crises. Normalmente a crise implica na perda de algo, ou alguém importante, se não, pelo menos a iminência de perda. Assim como a perda, ou a morte de alguém, implica em um período de luto, uma fase de características depressivas, onde o sujeito se desinteressa das coisas do mundo. Uma experiência onde se percebe, se reconhece, se aprende a respeitar e se responsabilizar pela realidade de ter que viver sem alguém. 
Bem, o desequilíbrio emocional sentido quando uma vida nasce é de certa forma análoga, se percebermos o fato de que, agora não se pode viver sem alguém. Ou seja, fica claro que, também sugere a morte de algo. A morte de aspectos da personalidade daquele que concebeu uma vida e tem a missão de cuidar desse alguém que nasce. Uma forma de luto sem dúvida, também se instala.




Agora alguém depende de mim, ou seja, já não sou mais dono da totalidade do meu eu, em função de uma vida que sucumbe sem meus cuidados.

Na casa de um recém-nascido, é comum que se encontre uma mãe “louca”, e me parece importante que ela possa encontrar espaço para “enlouquecer”. É como se ela se atirasse em um ‘abismo’(chamado bebê) que, só deseja e não possui sequer a capacidade ou qualquer que seja o recurso para comunicar aquilo que deseja tanto. Um modelo unilateral de relação, onde no bebê, a capacidade de pensamento é embrionária (muito limitada) e não existe possibilidade de gratidão.
 Nessa fase inicial é a mãe que deve pensar por ele. Até aqui já temos motivos bastante razoáveis para justificar a experiência de se viver certo estado de depressão, isso depois de tomar consciência dessa realidade.
Wilfred R. Bion (1897-1979)
A capacidade de Rêveri na mãe, segundo Wilfred R. Bion (1897-1979) – um dos mais importantes autores da psicanálise contemporânea, é que transforma cada choro ansioso do bebê em referencias reais que então é devolvido a ele em forma de contenção e acolhimento ou maternagem. 
A ação de maternagem proporciona ao bebê um modelo para que se construa a representação de coisa, assim como descreveu Sigmund Freud (1856 – 1939), ou em outras palavras, um símbolo de algo que apazigua a angústia na falta da possibilidade da constatação sensorial. 
Donald Woods
Winnicott (1896 - 1971)
mãe suficientemente boa para o psicanalista e pediatra inglês Donald Woods Winnicott (1896 - 1971), é aquela que proporciona ao bebê a possibilidade de reconhecer-se a si mesmo antes de se preocupar com o mundo externo. Essa mãe é que será o ambiente deste bebê até que este possa capacitar-se a perceber o ambiente real que o cerca.
Concomitantemente e contando com esse processo, a partir do contato com o real, se desenvolve a capacidade de imaginação e então o pensamento simbólico. É necessário que o bebê sinta-se acolhido e contido, em sua realidade, para que possa passar do processo imaginativo para o processo de pensamento simbólico, criando o que Bion (1953) chama de aparelho para pensar.
Mas, voltando à mãe “enlouquecida” em perceber uma vida que depende exclusivamente dos seus cuidados; é de extrema importância que, ao se arriscar nesse abismo chamado bebê, a mãe conte com um alguém (marido/pai) que mantenha a mão seguramente dada. É daí que ela buscará a resposta para o viver, ou a confirmação da existência: “sou amada!”, já que o bebê não pode fazê-lo. 
O pai será o “outro” que dividirá com o “eu” esse período de conflitos entre a realidade e as emoções que são demandas internas, que é chamado de depressão pós-puerperal. É bom que uma mãe tenha como retaguarda, um marido (pai) que possa suprir a necessidade de afeto, que no início não pode ser respondida pelo bebê. Ele agora, só quer, necessita, precisa...
O vínculo com o companheiro corresponde pelo menos nesse período, à possibilidade de vínculo com a própria realidade que existe além do desempenho da maternidade. Algo que existe do lado de fora daquele mundo simbiótico entre mãe e bebê. É a partir daí que, depois dos filhos crescidos, a mãe pode retomar seu papel de mulher. De outra forma, é comum que se perca no papel de mãe e não consiga mais se encontrar como “mulher”.
 Na verdade o nascimento de um bebê mexe profundamente na estrutura, funcionamento e dinâmica emocional do sujeito, assim como do casal e por que não, da família. A chegada do bebê trás angústias que a mãe, mesmo abalada pela situação, deve ser dedicada em cuidar. Entretanto, o pai suficientemente bom, por sua vez, também sofre com o processo. Muitas vezes isso fica encoberto por uma série de conceitos e preconceitos, porém, o pai, quando dedicado, também sofre todo o processo. Ele deve sentir e participar da mesma dor, que inunda as emoções da mãe, em meio a esse complexo processo.
Seu maior desafio quem sabe, seja a tarefa de elaborar em si mesmo, sentimentos invejosos naturalmente gerados pela atenção da companheira que, se desloca dele, para a criança.
O fato é que todos nós passamos por “depressões pós-parto” ao longo de nossa vida, contudo, daquilo que criamos e que, como realização, passa a ser algo que representa o eu de alguma forma, não sendo necessariamente um filho. 
Mas, no âmbito onde toda escolha efetiva, implica na renuncia de algo que não foi escolhido. Penso que a oportunidade de “brincar” com o sentimento antes que realmente aconteça é fundamental na criação desses recursos para lidar com a vida. Aquele que pôde um dia imaginar e sonhar com aquilo que hoje acontece, tem sempre maior chance de viver o presente, respeitando seu tempo, pois se torna mais responsável pela própria realidade.

terça-feira, 1 de junho de 2010

CINEMA E PSICANÁLISE II


Exibição e discussão do clássico filme Psicose (1960) de Alfred Hitchcock. A proposta é analisar através do texto Luto e Melancolia (1914) de S. Freud.

PUBLICO ALVO: ALUNOS DO CURSO DE PSICOLOGIA E À COMUNIDADE EM GERAL.
Professor: RENATO DIAS MARTINO
Data: 19 DE JUNHO DE 2010
Horário: 13:00 ÀS 17:00 HORAS
Carga Horária: 04 HORAS
Vagas limitadas
Local: UNILAGO
Inscrição:
http://www.unilago.com.br/extensao/info/?Curso=255
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Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Músico
Fone: 17-30113866 renatodmartino@ig.com.br
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com/