sábado, 12 de fevereiro de 2011

Amarga vingança - Prof. Renato Dias Martino

Amarga vingança
Francine Moreno

Lézio Júnior/Editoria de Arte
   Em março do ano passado, Jimmy Wales, fundador da enciclopédia on-line Wikipedia, dispensou a namorada, a canadense Rachel Marsden, por meio da internet. O que ele não aguardava é que a vingança dela viria também pela rede, com a venda das roupas dele pelo site de leilões on-line eBay. Com pouco menos de cinco dias para o término do leilão, a camiseta, com duas manchas brancas, já havia recebido lance de US$ 15 mil. Em matéria de vingança, Rachel Marsden se saiu muito bem. Como muitos dizem sua vingança foi comida friamente. Mas nem sempre é assim. A publicitária Laura (nome fictício), de 34 anos, está aí para provar. Após uma traição do namorado, foi à casa do rapaz enquanto a faxineira estava lá. Abriu os armários e queimou toda a coleção de camisetas de time de futebol do infiel, que dormia em cama alheia há seis meses, em uma fogueira no quintal. Aliviada e com uma alegria imensa foi para casa. Entretanto, em alguns meses percebeu a encrenca em que havia se metido.

Além de ganhar um processo e pagar todas as despesas da reforma do quintal, sente até hoje, dois anos após, vergonha e remorso. “Hoje entendo a frase de Carmem Sylva, que diz que a vingança é doce, entretanto à abelha custa-lhe a vida”, revela Laura.

Querer dar o troco é normal e pesquisas já comprovaram que traz prazer mesmo, entretanto, dura apenas um dia. “A vingança é uma ação gerada na ausência de tolerância, logo, aquele que é movido por esse recurso primário vive num funcionamento impensado, agindo por impulso. Sendo assim, convive sempre com um sentimento persecutório, na iminência das consequências dessa vingança”, afirma o professor e psicoterapeuta Renato Dias Martino. Quem se vinga tem dificuldade de compreender a outra parte. Às vezes nem enxerga que ela mesmo pode ter contribuído para a situação. De acordo com Prof. Martino, o processo do pensamento é justamente a entrada do outro nas implicações do desejo do eu. “Na verdade, o vingativo carrega um objeto a ser vingado dentro de si mesmo. Quando a vingança pode ser submetida ao pensamento o que se percebe é que sempre está fundada em equívocos.”
 Uma explicação psicológica para que a vingança corra nas veias de algumas pessoas, é que ela é um recurso primitivo usado pelo aparelho psíquico com o intuito de livrar-se de sentimentos indesejados, como humilhação, injustiça e susto. Um desejo de dominar a situação, segundo Sigmund Freud (1856 - 1939). O pai da psicanálise, ilustra em seu “Além do Princípio de Prazer (1920)”, uma situação de vingança. Ele descreve o sentimento da criança quando tem sua garganta examinada pela primeira vez. O médico abre sua garganta com um palito de madeira e olha lá dentro. Freud observa que esse tipo de ‘assustadora experiência’ será tema das próximas brincadeiras, com o coleguinha ou irmãozinho mais novo. “Na impossibilidade de vingar-se do agente da humilhação, escolhe um substituto. São todos sentimentos que em um modo mais aprimorado de funcionamento, são tolerados e posteriormente transformados em pensamento”, afirma Professor Martino. E nesta consequência estão constantemente experimentando e criando dentro de si sentimentos pobres de conteúdo, que com certeza a prejudicam muito mais que seu alvo de vingança.

 Extravase a sua fúria com nobreza

Para o psicólogo e psicoterapeuta Prof. Renato Dias Martino, o método para acabar com a vontade de punir aquele que te machucou requer dois elementos primordiais em forma de capacidades. Capacidade de conter sentimentos indesejáveis e a capacidade de reconhecimento dos próprios limites. “Por se tratarem de capacidades, estamos falando de algo a se desenvolver. Uma busca lenta e exaustiva, mas a única a nos colocar realmente inseridos no mundo.”
Diferente do que as avós aconselhavam, a indiferença não é uma forma de acertar as contas sem partir para atitudes extremas. O certo é que nada seja ignorado, pois em algum lugar dentro de nós isso tomará espaço e crescerá, mais cedo ou mais tarde uma situação inacabada atrapalha mais que ajuda. O melhor é resolver as questões à medida que se apresentam, mas com inteligência emocional.


Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

4 comentários:

Camila Monteiro disse...

Olá, faço terapia com a Dr Karina e por um grande acaso te vi nos seguidores de um blog que me visitou... OLHA O ROLO!!!
Dai lembrei de vc e vim visitar teu blog, adorei esse post, to te seguindo e se tiver interesse em me viitar o endereço vou deixar aqui tá?
Bjs e até mais.

www.vidacomplicadademais.blogspot.com

Sociedade das Quartas Feiras disse...

Em parte acredito que a vingança se origina pela mágoa que sentimos de alguém.

Segundo Shakespeare: "A mágoa é como um copo de veneno que tomamos com a intenção de prejudicar uma outra pessoa."

Prof. Renato Dias Martino disse...

Obrigado, querida Camila!
Beijão!

Prof. Renato Dias Martino disse...

Grato pelo comentário , "Sociedade das Quartas Feiras".