quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Você no controle da vida dos outros

Daniela Fenti para o Diário da Região - São José do Rio Preto, 11 de Setembro, 2013


Certo dia, você volta para casa em um horário diferente e o vizinho logo espia pela janela para saber porque chegou tão tarde. Você vai trabalhar com uma blusa nova e um colega cochicha com o outro sobre suas “extravagâncias” financeiras. Você se permite comer um doce e a prima que malha todo dia olha torto para suas gordurinhas abdominais. 

Quem nunca passou por alguma situação parecida com essas que atire a primeira pedra. Se a própria presidente da República, Dilma Rousseff, tem traçado estratégias nacionais para combater o monitoramento de espiões norte-americanos... Mas, afinal, por que a vida dos outros provoca tanta curiosidade? Segundo Renato Dias Martino, psicoterapeuta, escritor e professor de Rio Preto, esse tipo de comportamento é definido pela psicanálise como um mecanismo de defesa chamado “projeção”. 

Ele explica que pensamentos, desejos, sentimentos e emoções inaceitáveis ou indesejados são atribuídos a outras pessoas, fazendo com que a mente não os reconheça.“Existe uma frase do Freud que diz o seguinte: ‘Quando Pedro me fala de Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo’. Isso significa que quando olhamos muito para alguém, algo não vai bem conosco”, explica. 

Para Martino, quanto mais as experiências desagradáveis são elaboradas internamente, mais maduros os indivíduos se tornam e menor o risco de projetarem esse tipo de experiência no próximo. Embora a preocupação com a vida do outro não seja um fenômeno social recente, o assunto se tornou um dos “queridinhos” das redes sociais, como o Facebook e o Instagram - onde, naturalmente, existe uma superexposição pessoal. 

A tecnologia oferece ferramentas para que as informações circulem cada vez mais rapidamente e em lugares mais distantes. Mas a culpa não é dela. É comum que os perfis sejam vasculhados de um lado e algumas indiretas sejam publicadas do outro, a fim de reprimir as atitudes dos amigos virtuais muito xeretas. Martino explica, no entanto, que as indiretas só servem para que se criem ainda mais mecanismos de defesa. 

Outro erro comum é achar que “dizer umas verdades” de qualquer maneira vai resolver o conflito. Dependendo das palavras e da entonação escolhidas, é possível piorar - ainda mais - o relacionamento.“Kant dizia que a verdade sem amor é crueldade. Quando alguém projeta em nós suas incapacidades, devemos devolvê-las de forma carinhosa”, ensina Martino. 


Ainda vale citar que, mesmo que alguém esteja rodeado de pessoas que costumam observar e julgar seus passos, só haverá prejuízos se esse alguém permitir. “Precisamos estabelecer limites, senão um completo estranho pode começar a ditar regras em sua casa. Tem gente que se faz de boazinha por medo de ser rejeitada e permite tudo”, orienta Fonseca.’

Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866 
renatodiasmartino@hotmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

Nenhum comentário: