sábado, 15 de novembro de 2014

Do Desenvolvimento do Amar

Numa visão superficial da obra freudiana, a conceptualização do amor pode ser facilmente mal interpretada. Se não for pesquisado de forma cuidadosa o conceito pode tomar uma proporção um tanto quanto rasa. Isso, pois, é encontrada frequentemente coincidindo com o termo libido, se restringindo no desejo que se sente por alguém, ou algo. Uma tendência do funcionamento mental a se pronunciar em direção ao objeto de desejo, a pulsão de vida descrita por Freud. Eros, o deus do amor na mitologia grega, serve como ilustração. Entretanto, o autor que aqui escreve procura desenvolver um quadro que inclui o amor como sendo certa capacidade que guarda a característica do desenvolvimento.
Ainda que oriunda desse mesmo desejo (libido), entretanto, enquanto amor, não permanece meramente como desejo que se pronuncia em direção a um objeto ou a si mesmo (narcisismo), mas que evolui como inclinação em acolher esse objeto e contê-lo. O ‘amar’: aquela que talvez esteja (assim como a sinceridade) entre as mais sublimes capacidades que um ser humano pode desenvolver, pode nascer do desejo, mas desse estágio deve evoluir. Isso considerando que estamos diante da nomeação de certa experiência que está disposta ao desenvolvimento dentro de uma graduação evolutiva, onde, mediante a um ambiente propicio, tende a expandir-se pra além de sua forma original.
Partindo de suas formas mais toscas e rudes, até tomar configuração mais alargada, mais elevada e por isso desenvolvendo características nobres. Cada evolução dessa experiência confere então uma nova nomeação que adequará a relação entre conceito e experiência.

Na ausência desse desejo do qual Freud chamou de Eros e que aqui elegemos como protótipo de amor e é responsável pela integração das partes, o que se apresenta é a quietude ilustrada na teoria freudiana, por Thânatos, que conduz a dissociação das partes.
Um processo de involução, uma ação defensiva de retirada do amor do objeto e redirecionando-o para si mesmo. Duas tendências: amor do outro e amor do eu, vivendo e convivendo no funcionamento da mente humana, em suas experiências afetivas. O desejo, ora bruto e egoísta, seria aqui um protótipo do que um dia poderia, adequadamente ser chamado de amor. Isso se for irrigado de afeto, dentro de um ambiente acolhedor e podendo se desfazer de sua forma antiga, na proposta de um novo modelo mais evoluído, ungido da capacidade de tolerar frustrações.



Prof. Renato Dias Martino
Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17 991910375
prof.renatodiasmartino@gmail.com
http://pensar-seasi-mesmo.blogspot.com

sábado, 1 de novembro de 2014

COMO FAZER UMA LEITURA PROVEITOSA

A leitura de textos introspectivos, como são na sua maioria aqueles das teorias do pensar, requer um cuidado especial. A leitura de escritos dessa ordem, não é como a leitura de um romance, de um jornal, ou mesmo de um manual de instruções. Algumas atitudes são fundamentais para que a leitura dessa ordem de textos seja realmente proveitosa. Por tanto, gostaria de propor, algumas delas nas linhas que aqui seguem. São aspectos que, envolvem uma evolução do desenvolvimento da prática da leitura.
Em primeiro lugar gostaria de propor o aspecto circunstancial como condição fundamental para o que a leitura seja bem sucedida. A experiência deve ter inicio no momento da disposição interna para a leitura, enquanto isso não ocorrer nada poderá ser realizado. Dessa forma, prudente seria, ter sempre a consciência de que muitas vezes é mais interessante aguardar outra ocasião e não insistir em algo de forma forçosa. Se estivermos forçando a leitura, não estaremos aproveitando nada, e muito provavelmente nos pegaremos paginas a frente sem sequer se recordar o que foi lido até ali.
No entanto, a capacidade de tolerar não compreender tudo que esteja sendo lido é fundamental para que a leitura possa fluir. Muitas vezes não compreendemos certa parte do texto que será possível ser compreendida só no final da leitura. Em alguns casos iremos compreender só tempos depois de termos lido, ou mesmo pode ser que nunca seja entendido, mas que nem por isso não foi possível aprender, crescer e expandir o pensamento com o conteúdo do texto.
O segundo é o aspecto importante é o ambiental, que diz respeito a onde será realizada a leitura. Um local arejado, com boa iluminação e o mais livre possível de ruídos estressantes é fundamental para uma boa leitura. Esse aspecto poderá ser descartado quando for possível respeitar o primeiro e assim que os próximos forem cumpridos de forma efetiva. Estando num momento disponível à leitura e buscando desempenhar os seguintes elementos, pouco importará onde esteja lendo. Assim, se encontrará tão integrado em si mesmo e em sua leitura que a localização no espaço físico será de muito rara influência, pois a paz e o silêncio já se encontram interiorizados.
Em seguida temos o terceiro aspecto: o constitucional, que diz respeito ao intuito da leitura. Dificilmente nos engajaremos numa leitura introspectiva, podendo desfrutar de sua essência, sem que haja um bom motivo para isso. Se esse motivo não for de certa forma claro para o leitor, mesmo num ambiente adequado, não haverá disponibilidade de concentração para uma leitura proveitosa. Esse motivo não precisa necessariamente ser claro para o outro, bastando que o leitor sinta como presente sua motivação interna.
O quarto é o aspecto conceitual, aquele que diz respeito à nomeação de experiências. Se o conteúdo do texto estiver deveras distante da possibilidade de vivência subjetiva do leitor, a leitura logo se mostrará entediante e desinteressante. Isso acontece por conta do choque de realidade, onde o conteúdo se configura num absurdo inimaginável. Ora, se aqui falamos de leitura introspectiva, então aquele que não é capaz de olhar para as experiências internas, não poderá se aproveitar de conteúdos dessa espécie.
O aspecto reflexivo é o quinto aspecto importante para uma leitura introspectiva, e diz respeito à possibilidade de transcendência da ideia contida no texto. Um leitor que não for capaz de ir para além do que está escrito, numa analogia com outros temas e outras leituras, não será capaz de se beneficiar de maneira profícua da leitura que agora se dedica.  Fica assim, de forma limitada, preso ao conteúdo de maneira unívoca. Isso empobrece o conteúdo independente do que está escrito, pois não contará com referencias para levantar semelhanças e diferenças, o que enriqueceria a substância do texto.
O aspecto contemplativo é o sexto aspecto e se encontra numa esfera muito nobre, que traz à leitura a possibilidade de certo aproveitamento muito profundo. A contemplação do conteúdo do texto é uma capacidade rara, e que não pode ser aplicada a qualquer texto. Alguns textos trazem uma conotação poético-artistica e permitem que o leitor desloque a leitura da busca cultural numa dimensão contemplativa, tanto do conteúdo quanto da forma de escrita. Porém, a ânsia por compreensão e a busca voraz pelo saber pode dificultar esse aspecto. Quando o que se deseja é entender, muitas vezes, a contemplação se torna impedida.