terça-feira, 10 de janeiro de 2017

O AMOR ‘LÍQUIDO’ NA PÓS-MODERNIDADE

Reportágem de Harlen Félix, para o jornal Diário da Região: Domingo, 08.01.17

W. Orlandeli
Um dos críticos ferrenhos do capitalismo na pós-modernidade, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925 - 2017) é responsável pelas reflexões mais realistas sobre as relações humanas na atualidade. Em sua obra, ele cunhou o termo ‘líquido’ para expressar a fragilidade e insegurança que prevalecem sobre as relações em diferentes níveis, dos vínculos amorosos aos familiares. Em livros como Amor Líquido (2004), Vidas Desperdiçadas (2005) e Medo Líquido (2008), Bauman mostra como o consumismo e as redes sociais têm contribuído para tornar os relacionamentos descartáveis e gerar níveis de insegurança que aumentam a cada dia.

Zygmunt Bauman
(1925 - 2017)
Para o sociólogo polonês, os seres humanos estão dando mais importância a relacionamentos em ‘rede’, que podem ser desmanchados a qualquer momento. E, desta forma, estabelecendo cada vez mais um contato apenas virtual, as pessoas desaprenderam a manter relacionamentos a longo prazo.



Liquidação humana
Para o psicoterapeuta, escritor e professor universitário Renato Dias Martino, a sociedade vive um ciclo vicioso tão severo que é difícil ter esperança em reverter essa situação no âmbito social. Os recursos disponíveis hoje podem, no máximo, estabelecer uma mudança no campo individual.

Segundo o psicoterapeuta, grande parte das crianças que nascem hoje não foram desejadas. Assim, nascem sem ter espaço na vida dos pais. “Nos primeiros anos de vida, a criança precisa viver junto da mãe. A falta dessa relação gera prejuízos severos. Sem uma mãe dedicada e um pai presente, qualquer relação dessa pessoa será prejudicada”, comenta.

Para Martino, as pessoas não nascem sabendo amar. “O amor é algo construído. Só se aprende a dar atenção ao outro quando se recebe atenção. E a maioria das pessoas só recebeu atenção quando havia uma recompensa. Um sociedade pautada pelo amor líquido é uma sociedade formada por pessoas em liquidação. Está todo mundo barato e exposto”, diz.



Por outro lado, ele ressalta que a internet não pode ser demonizada por conta dos problemas que pautam as relações humanas. “Há uma piada que diz que um sujeito que foi esfaqueado processou a Tramontina. Vivemos em um ciclo vicioso que é difícil ser identificado pelas pessoas”, comenta.


Psicoterapeuta e Escritor
Fone: 17-30113866
prof.renatodiasmartino@gmail.com 

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